segunda-feira, 9 de junho de 2008

O jeito sambarróque de dançar - Parte 1

Vale muito a pena conferir o texto abaixo escrito por Maíra Spanghero, principalmente pela citação ao blog Samba Rock Na Veia como fonte de informação do gênero. Uma viagem no tempo por esse ritmo que nos contagia.



A megacidade de São Paulo, da comida à arquitetura, é um caleidoscópio de culturas. Território de encontros, deslocamentos e misturas. Ressoa, à maneira brasileira, processos e práticas encontradas em outros países, onde também se observa o surgimento de manifestações culturais mestiças. A emergência do samba-rock nos bairros populares da maior cidade do Hemisfério Sul, há aproximadamente 50 anos, é um dos belos exemplos de como uma cultura, que não tem medo do outro, tece seus mosaicos e mantém-se viva a partir de miscigenações e hibridismos.Foi justamente do encontro de elementos culturais locais com estrangeiros que o samba-rock pôde acontecer, e o nome deixa claro o grude das duas geografias unidas por um hífen (Brasil & EUA). Nascido, pois, do contágio do samba com o rockabilly, vertente do rock´n´roll surgida nos Estados Unidos na década de 50 (que chegou até aqui via rádio, TV e long plays), o samba-rock, para além de um jeito de dançar em pares, consiste numa trama maior, alinhavada no fluxo da vida. Envolve, no prazer de dançar a dois, o gosto de organizar festas, a convivência das pessoas nas ruas, a invenção de músicas, os namoros e paqueras, a maneira de vestir, as comidas “típicas”, as brincadeiras e, salve, muita alegria!

O samba-rock se difundiu nas comunidades (como as de Vila Brasilândia, Vila Guilherme e Pirituba), em bailes familiares (aniversários e casamentos), festas, com a venda de discos, CDs e, mais recentemente, através de shows, concursos competitivos e mídia independente (blogs, podcasts, sites). É curioso imaginar que, na populosa metrópole com 20 milhões de habitantes (o Estado tem 40), pelo menos 2 milhões deles apreciam e estão envolvidos em algum elo dessa cadeia produtiva. Ainda assim, a grande maioria dos paulistanos desconhece essa expressão cultural tão singular. Parte dessa situação pode ser explicada pela ausência de notícias na dita grande mídia, que, por sinal, tomou conhecimento do assunto há cerca de seis anos, quando pipocou um ou outro texto na imprensa e alguns sites dedicados ao assunto. Mas será que o fato de estar fora dos veículos maiores não é, também, prova da força de existência e resistência dessa manifestação? Aliás, depois que inventaram a internet e os meios de publicação foram liberados, quem precisa da mídia ‘oficial’ para ter visibilidade?

Baseada em relatos orais, a dissertação de mestrado Fora da mídia e dentro do salão: samba-rock e mestiçagem, disponível aqui e defendida em 2006 no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pelo pesquisador e professor de danças de salão Vagner Rodrigues, é o primeiro registro organizado e escrito sobre o tema. Ufa! O trabalho é valioso e deu conta de olhar o fenômeno com olhos de dentro (já que Rodrigues também é dançarino do “estilo” e convive desde que nasceu no ambiente que o fertilizou) e também com olhos de fora (quando conecta esse saber com teorias da cultura e mestiçagem, cujo principal especialista no Brasil é o professor Amálio Pinheiro, que atua na mesma pós-graduação).

Isso sem falar na preciosidade dos relatos contidos no volume. Entre eles, está o do DJ Tony Hits, colecionador e comerciante de discos ligado ao ritmo, conhecido também por embaixador do samba-rock. Hoje sua loja está localizada na Galeria do Rock mas, antigamente, ficava em outro ponto do centro da cidade e, para chegar até ela, era preciso passar pelo Green Express, salão de festas “descoberto” por celebridades brasileiras. Na verdade, o lugar é antigo e funcionava como uma churrascaria até que, em 1980, Hits em parceria com Marcos Green (diretor do local), promoveu um baile black que deixou o endereço famoso, por atrair centenas de pessoas.

Estórias como essa fazem parte do universo do balanço black (como também foi chamado) que, como conta o embaixador, “existe desde 1957 em vários pontos da cidade de São Paulo. Quem ouve falar dele agora, acha que é novidade. O samba-rock não é uma moda mas sim uma cultura muito sólida”. O site do DJ vale a visita pelo material disponível e pelo link que dá acesso às pérolas que seleciona no seu programa de rádio. Outra dica é o blog Samba Rock na Veia.

A dança de salão chegou ao Brasil no século XV através de emigrantes europeus. A primeira dança a dois que se teve notícia em terras tupiniquins foi a valsa. Depois apareceu a polca (vale lembrar do conto O homem célebre, de Machado de Assis), que rapidamente veio a se tornar uma febre. Em seguida surgiu o maxixe, a primeira dança de salão brasileira.

Maíra Spanghero é escritora e pesquisadora. Doutora em Comunicação e Semiótica, professora da PUC/SP e autora do livro “A dança dos encéfalos acesos” (Itaú Cultural, 2003). É Também curadora do projeto Roda (SP) e editora da Coleção Húmus.

Fonte: idança.net

Ótimas trançadas...

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